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Maranhense de 23 anos sofre abusos em trote universitário, entra em coma e abandona Universidade

 



Mais um caso de abuso em trote universitário foi registrado em Minas Gerais. Dessa vez, envolveu o maranhense Ayrton Carlos Almeida Veras, 23 anos, que entrou em coma após um ‘trote’ na república federal Sinagoga, em Ouro Preto, e ainda sofre com sequelas físicas e psicológicas da situação, tendo desistido do curso de graduação que realizava na Universidade Federal de Ouro Preto.

O caso, denunciado pela mãe do estudante, Acsa Regia Araújo Almeida Veras, teria acontecido no dia 04 de agosto de 2022. Os moradores da república teriam colocado remédio Rivotril na bebida de Ayrton e também obrigado ele a tomar cachaça misturada com óleo, molho de pimenta e molho shoyu. Além disso, teriam jogado um balde de água misturado com pó de café no rosto do estudante, que “ele aspirou e se asfixiou, o que ocasionou uma pneumonia e posteriormente, o estado de coma alcoólico”. A mãe também informou que a equipe médica da UPA precisou acionar a Polícia, pois teria sido encontrado gel lubrificante no ânus de Ayrton, fato que poderia indicar um possível abuso sexual.

Acsa conta que o estudante, natural de São Luís, Maranhão, entrou no curso de Engenharia Mecânica da Universidade Federal de Ouro Preto (UFOP), em 2021, durante a pandemia. Em fevereiro de 2022, as aulas voltaram a acontecer presencialmente e Ayrton se mudou para Ouro Preto e foi morar na República Sinagoga, após indicação de um conhecido. Na república, Ayrton teve que passar pelo período de adaptação, conhecido no meio republicano como “batalha”, no qual os estudantes são chamados de “bixo”. Após esse período, caso o estudante seja aceito para morar na república, os moradores do local realizam um evento chamado de “escolha”, nele, tradicionalmente entre as repúblicas de Ouro Preto, o escolhido passa por alguns “trotes”, como: virar cachaça e tomar banho de baldes de água suja.

Teria sido em um desses eventos que Ayrton teve interrompido o sonho de se graduar em uma universidade pública. Acsa conta que seu filho tinha passado o dia na UFOP, e ao chegar em casa, no dia 4 de agosto, por volta das 19h30, os moradores da república tinham feito uma reunião e decidiram “escolher” Ayrton para ser morador. “Nesse dia, foi a escolha do meu filho e outros três alunos. Nesse evento, Ayrton se submeteu a tomar copos americanos de pinga, que os outros moradores o fizeram tomar. Também adicionaram, isso foi os médicos da UPA e da UTI que me falaram, Rivotril na bebida dele. Além disso, mandaram ele tomar cachaça com óleo, molho de pimenta e molho shoyu”, relata a mãe.

Como outra forma de trote, os estudantes jogaram um balde de água misturada com pó de café em Ayton. “Essa água acabou pegando no rosto dele, ele aspirou e se asfixiou com o líquido, ocasionou a pneumonia por aspiração e em seguida, o coma alcooólico”. Acsa ainda relata que demoraram a prestar socorro. “Os moradores achavam que Ayrton estava dormindo, aí demoraram a levar ele para o hospital. Só levaram quando viram que ele já estava pálido e se debatendo, aí levaram ele para a UPA, chegando lá, os médicos viram que ele já estava em coma”, contou Acsa.

Possível abuso sexual

A mãe do estudante também contou que após realizarem exames físicos em Ayrton, os médicos da UPA acionaram a Polícia Civil de Ouro Preto, pois foi encontrado gel lubrificante no ânus do estudante. Como procedimento padrão, ele teve material biológico recolhido, conforme kit fornecido pelo Programa de Humanização do Atendimento à Vítima Sexual da Polícia Civil de Minas Gerais. Acsa e Ayrton aguardam o resultado do exame, mas a mãe conta que toda a situação mexeu muito com o psicológico do filho. “Esse exame induz a um possível abuso sexual, isso está deixando todos nós muito abalados, ele ficou em coma de sete a oito dias, e além das sequelas, agora ele também está tomando coquetel antisoropositivo, porque nem ele, nem os médicos sabem o que aconteceu, se foi algum tipo de abuso enquanto ele estava apagado, mas como encontraram o gel, ele tem que passar por esse procedimento padrão”, afirmou.

Sequelas

Segundo Acsa, Ayrton é hipertenso, cardiopata e fazia uso por prescrição médica, do rivotril, um ansiolítico, que tem a função essencial, de inibir certas funções do sistema nervoso central, através de um efeito sedativo, devido à ansiedade generalizada. Porém, ela afirmou que o estudante fez check-up, e foi liberado pelos médicos para viajar para Ouro Preto, mas após o ocorrido, Acsa conta que ele enfrenta diversas sequelas. “O médico falou comigo: mãe, o seu filho chegou quase morto aqui no hospital. E hoje, ele tem sequelas, o cabelo dele está caindo, ele teve alopecia, má circulação no pé esquerdo, fora os problemas cardíacos, o médico disse que foi uma carga muito grande para o corpo dele aguentar”, informou Acsa. O relatório psiquiátrico de Ayrton informa que ele foi diagnosticado com Transtorno de Estresse Agudo após o evento.

Acordo com a república

Acsa explicou que demorou a tornar público o caso, pois tinha feito um acordo com os moradores da República Sinagoga para que eles arcassem com os custos do tratamento de Ayrton, porém, ela alega que eles não estão cumprindo com o combinado. “Depois do ocorrido, eu viajei com meu esposo para Ouro Preto, eu fiquei alguns dias na república, eu fiz reunião com os meninos, perguntei o que tinha acontecido, mas ninguém me respondia. Eles só contaram a verdade porque eu pressionei e o hospital me comunicou. Fizemos o acordo de eles arcarem com as despesas médicas do Ayrton, mas isso não está acontecendo. Eles me deram R$900,00 e pagaram as passagens, mas esse não era o acordo, o combinado era de que eles pagassem todas as despesas médicas dele, mas isso não está acontecendo. Ele está fazendo tratamento psicológico, eu fiz plano de saúde, mas sou cabelereira, meu marido está desempregado, eu não tenho condições de arcar com tudo”, disse Acsa.

Ela ainda detalhou que fez várias tentativas de comunicação com um morador veterano da república. Ele é mais antigo da república, o “decano” como é chamado no meio republicano e por isso, é hierarquicamente, o representante da república. Porém, ela não teve resposta e quando teve, eles enviaram uma nota acusando Ayrton de uso de drogas e assédio sexual contra três mulheres. Acsa contesta as acusações e afirma que o exame toxicológico realizado no hospital deu negativo para o uso de drogas. Além disso, ela declarou: “Se meu filho fez isso, assédio essas meninas, eu quero que eles provem”.

República Federal é responsabilidade da UFOP?

O sistema de moradias da UFOP integra vários tipos, um deles, são as repúblicas federais. Segundo o site da universidade, elas estão localizadas em imóveis cedidos pela UFOP para a moradia estudantil. Em Ouro Preto são 59 repúblicas desse tipo, espalhadas pelo centro histórico de Ouro Preto. O site também informa que é assegurada às moradias a autogestão. Entretanto, advogados que prestam assistência jurídica para O Liberal, esclareceram que as ações dos alunos configuram um crime, desse modo, mesmo sendo definida a autogestão das moradias, a UFOP precisa fazer o acompanhamento da situação. Além disso, os trotes estão proibidos na universidade. Acsa procurou a UFOP para a tomada de providências relacionadas a República Sinagoga, porém, não teve respostas.

Por meio de uma nota, a UFOP informou recebeu um e-mail do estudante, que imediatamente foi encaminhado para acolhimento pela equipe técnica de moradia e acompanhamento por assistente social. “Já solicitamos a ele que encaminhe documentos para que possa ser aberto um processo administrativo disciplinar discente para possibilitar a aplicação das normas da UFOP, que proíbem o trote”, disse a nota. Nossa equipe também entrou em contato com um morador da república acusada. Ele informou que, no momento, a República Sinagoga não vai se pronunciar sobre o assunto, mas que eles negam todas as acusações

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