A
presidente do Supremo Tribunal Federal (STF), ministra Cármen Lúcia, criticou
hoje (29) as iniciativas que pretendem criminalizar a atuação de juízes, como o
projeto de lei sobre abuso de autoridade que tramita no Congresso Nacional.
O
PL 280/2016 foi apresentado pelo presidente do Senado, Renan Calheiros
(PMDB-AL), que defende a atualização da lei de abuso de autoridade,
considerada por ele como obsoleta.
“Os
juízes brasileiros tornaram-se, nos últimos tempos, alvo de ataques, de
tentativas de cerceamento de atuação constitucional e o que é pior, busca-se
até mesmo criminalizar o agir do juiz brasileiro restabelecendo-se até mesmo o
que já foi apelidado de crime de hermenêutica no início da República e que foi
ali repudiado”, disse Cármen Lúcia durante sessão do Conselho Nacional de
Justiça (CNJ).
O
procurador-geral da República, Rodrigo Janot, já fez crítica semelhante ao projeto, ao dizer que o texto
defendido por Renan possui uma abrangência excessiva, correndo o risco de
criminalizar interpretações jurídicas legítimas do juízes, os chamados crimes
de hermenêutica.
“Juiz
sem independência não é juiz, é carimbador de despacho, segundo interesses
particulares e não garante direitos fundamentais, segundo a legislação
vigente”, afirmou Cármen Lúcia, que neste mês recebeu em seu gabinete os
presidentes das principais associações de magistrados brasileiras. Na
reunião, eles pediram que ela assuma postura firme contra a medida.
A
iniciativa tem sido duramente criticada por magistrados como o juiz federal
Sérgio Moro, responsável pelas investigações da Operação Lava Jato, que
classificou a iniciativa como uma tentativa de criminalizar magistrados.
Supersalários
A
presidente do STF abordou também os supersalários, remunerações acima do teto
constitucional, do Judiciário, que têm sido alvo de escrutínio por uma comissão
especial criada por Renan e relatada pela senadora Kátia Abreu (PMDB-TO).
“Confundir
os problemas, inclusive os remuneratórios, que dispõem de meios de serem
resolvidos e serão - tanto que a Corregedoria, o ministro corregedor, instituiu
um grupo exatamente para verificar a situação desses quadros remuneratórios,
eventuais erros e providências a serem tomadas - com o abatimento da condição
legítima do juiz é atuar contra a democracia, contra a cidadania, que demanda a
Justiça, contra um Brasil que lutamos para construir”, afirmou Cármen Lúcia.
Ao
encerrar sua fala, a ministra lançou um questionamento retórico:
“Desconstruirmos como Poder Judiciário ou como juízes independentes interessa a
quem? Enfraquecermo-nos objetiva o quê?”
Conciliação
O
discurso de Cármen Lúcia, que abriu sessão extraordinária do CNJ hoje, teve
como mote comemorar a semana de conciliação, iniciativa anual do Judiciário
para arbitrar conflitos antes que se tornem processos e sobrecarreguem os
tribunais.
Segundo
a ministra, foram realizadas 623.454 audiências de conciliação em todo o país
neste ano, quase o dobro das 340 mil realizadas em 2015.
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