São Marçal
Da Coluna do Sarney
Lembrei outro dia que o São João do Maranhão tem várias
marcas. A primeira, da forma tradicional vinda dos Açores, com grande marca
portuguesa. Até o boi eles tinham na ilha de onde vieram os primeiros
emigrantes para o Maranhão. Lá era mais um boi pequeno, muito assemelhado ao
chamado boi de mamão, como sobrevive até hoje em Santa Catarina.
Mas as festas juninas portuguesas eram mais marcadas pelas danças
de roda e pelas quadrilhas. Carlos Lima foi quem melhor estudou o nosso boi,
que foi boi-bumbá e definitivamente ficou como BUMBA-MEU-BOI. O São João de
outrora girava, em quase todas as casas, em torno da fogueira, com as danças de
sempre. Com as mãos cruzadas em cima se jurava amizade, no ritual do compadrio.
Depois – coisa dos últimos 30 anos – agregaram-se as festas
reunindo São João, São Pedro e São Marçal. São João, discípulo amado de Jesus,
que repousava sua cabeça do peito do Mestre; São Pedro, o chefe da Igreja; e
para São Marçal procura-se encontrar explicação de porque ressuscitou sua
devoção em São Luís. Sua biografia é de poucos dados, com a lenda de que
segurou a toalha com que Cristo enxugou os pés dos Apóstolos na última ceia.
Tornou-se santo pela voz do povo, no século VI. O certo é que as festas de
junho terminam com seu dia, 30, que atualmente é feriado municipal.
Mudou-se o
nome da antiga avenida do João Paulo para São Marçal, por lei seu dia é o Dia
Nacional dos Brincantes de Boi, e ele é padroeiro dos bombeiros. Sobre São
Marçal criaram-se várias histórias: que foi discípulo de Jesus, que assistiu à
ressurreição de Lázaro… Chegaram a pedir ao papa Pio IX que o declarasse
apóstolo, mas ele se negou a aceder ao pedido.
No Maranhão dizem que a devoção – ou ressurreição, porque
está esquecido no mundo inteiro, tendo sido retirado dos calendários cristãos e
só sendo festejado aqui entre nós – foi introduzida por um senhor chamado José
Pacífico de Moraes, por apelido Bicas, que, vendo no Anil dois bois de matraca,
mandou-os dançar no João Paulo e iniciou o costume de ali reunir todos os anos
os bois, porque não era permitido pela polícia Bumba-Boi entrar na cidade, para
não causar desordem. Os bois eram tidos como brincadeira de caboclo e a cidade,
preconceituosa, não os deixava descer.
Sabem quem acabou com essa ordem? Fui eu, em 1966, governador
do Estado que adorava os Bois e os acompanhara na mocidade, quem mandei que
brincassem na cidade inteira. Para começar, trouxe o primeiro para dançar no
Palácio do Leões. Roseana herdou esse gosto pelo Bumba-Meu-Boi e pelos
folguedos populares.
Chego aqui e me dizem que o mês, mais uma vez, foi triste. O
povo gostaria de acompanhar o Boi mas está com medo de sair de casa diante de
tanta violência: essa atinge marcas tristes, que colocam nossa cidade como uma
das mais violentas do mundo.
Valei-nos São João, São Pedro, São Marçal e também dois
santos de junho que são muito invocados pelo povo, Santo Antônio, o
casamenteiro, o pregador, de Pádua e de Lisboa, e São Paulo, festejado junto
com São Pedro desde o princípio da Igreja, motivo porque figurava na cerimônia
de compadre dos velhos tempos.
E continuo pensando que São Marçal talvez esteja incluído
como bombeiro para apagar os excessos dos fogos de São João, fogueiras,
busca-pés, foguetes e agora a pólvora dos revólveres, das pistolas e das
espingardas que estão dominando a cidade.
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