quinta-feira, 25 de agosto de 2022

Instituto acusado de ‘fabricar’ pesquisas falsas é o único em que Bolsonaro acredita


Nesta quarta-feira (24), uma novidade animou o entorno do presidente da República, que, como se sabe, não costuma ter compromisso com a realidade e adora uma fake news: um instituto de pesquisa mostrou Jair Bolsonaro (PL) à frente de Lula (PT) na corrida ao Palácio do Planalto. 

No levantamento, realizado pela Brasmarket Inteligência em Pesquisa, o ex-capitão aparece com 41% de intenções de voto no primeiro turno, à frente de seu principal rival, com 32,9%. A amostragem, inclusive, foi divulgada pela RedeTV, cujo sócio é um fiel apoiador do presidente.

Curiosamente, segundo reportagem da Revista Veja, a companhia não é filiada à Associação Brasileira das Empresas de Pesquisas (Abep) nem fez levantamentos nas últimas campanhas eleitorais, conforme os registros do TSE. Além do histórico recente, a singularidade de seus números também chamou a atenção do mercado.

“Há muitas pesquisas sendo divulgadas e todas, independentemente de serem ou não associadas à Abep, têm apontado a mesma tendência”, disse a vice-presidente da Abep e CEO do Inteligência em Pesquisa e Consultoria (Ipec), Márcia Cavallari. “Achei que essa empresa já estivesse fechada. Era bem ativa nos anos 80 e depois sumiu”, completou.

Num primeiro contato, até o advogado da Brasmarket, Everson Tobaruela, mostrou-se surpreso com a realização da pesquisa, já que, para ele, a empresa estava inativa há vários anos. Num segundo contato, Tobaruela informou que a dona da Brasmarket vendeu franquias em alguns estados — e que o comprador de algumas delas, o publicitário José Carlos Cademartori, fez o levantamento.

Nos bastidores, é recorrente entre políticos a versão de que institutos trabalham as margens de suas pesquisas para atender ao gosto do freguês — e que as diferenças entre os resultados vão diminuindo quanto mais próximo fica a votação. Os representantes do setor negam tal prática, que ocorreria em casos isolados, justamente entre as empresas com menor visibilidade.

Desconfiança

A Brasmarket, por exemplo, já foi acusada desse tipo de fraude. Em 2000, um prefeito publicou um anúncio em jornais acusando o instituto de pedir dinheiro para a divulgação de uma sondagem que o mostraria como o administrador mais popular da Grande Vitória.

Em 2002, o juiz auxiliar do TRE/PR (Tribunal Regional Eleitoral do Paraná), Paulo Cezar Bellio, chegou a condenar a empresa de pesquisa Brasmarket a uma multa de R$ 10.640,00. Ele alegou que a empresa executou “comprovada irregularidade na divulgação de uma pesquisa eleitoral” para o governo do Paraná, publicada no dia 23 de março daquele ano. O juiz pediu ainda à Polícia Federal que instaure inquérito policial para investigar a ocorrência de fraude.

Na época, o PMDB pediu – com base na Lei Eleitoral – que exigisse da empresa informações quanto à origem dos recursos gastos no trabalho, quem pagou, metodologia usada, plano amostral, ponderação de sexo, idade, condição econômica, grau de instrução, área territorial pesquisada, margem de erro, relação nominal dos pesquisadores e acesso ao sistema de controle interno.

“A melhor prova nos autos é de que a requerida sonegou em suas informações o local da pesquisa – municípios e bairros, a identificação dos entrevistadores, quem contratou e pagou os trabalhos, além de negar ao requerente acesso ao sistema interno de controle para constatação da veracidade dos dados”, argumentou o juiz.

A desconfiança do partido foi reforçada por outra denúncia contra a Brasmarket, feita no Espírito Santo, por manipulação de resultado de pesquisas. Sérgio Vidal (PDT), prefeito de Serra, publicou um anúncio em jornais do Estado acusando a Brasmarket de ter pedido R$ 190 mil para a divulgação de uma pesquisa, apontando-o como o administrador mais popular da Grande Vitória. Com a denúncia, a sigla partidária viu reforçada a sua decisão de questionar a Brasmarket na Justiça.

Como se observa, a empresa de pesquisa tem um histórico de multas e até inquéritos policiais instaurados por “comprovada irregularidade” na produção de resultados eleitorais. Os números relacionados à corrida eleitoral deste ano deve abrir um novo capítulo que pode elevar ainda mais sua ficha corrida.

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